segunda-feira, 6 de junho de 2011

A Lebre a Vagarosa por Manuela



No mato, todos lhe conheciam esta faceta irritante. Passava os dias a desafiar os animais com os maiores disparates, só pelo prazer de os irritar. E os intentos da lebre eram sobejamente alcançados. Todos corriam dela a sete patas; evitavam-na como podiam. Bem; todos, todos, não. A Vagarosa não lhe dava importância, e respondia-lhe sempre em tom cordial, fazendo de conta não perceber as intenções zombeteiras. Mesmo no momento da lebre a desafiá-la para a corrida ao longo do trilho dos patos, caminho feito por entre árvores frondosas, e terminando ao pé do lago. Bem dito, bem feito. Foi a Matreira, raposa de nascença, nomeada árbitro do desafio. Competia-lhe garantir a partida de ambas exactamente ao mesmo tempo, e registar a primeira chegada.
No dia e hora marcados, além das concorrentes e da Matreira, todo o mato comparecera em peso para assistir à derrota certa da Vagarosa. Como podia ser tão tonta?
A lebre viera com o melhor fato de treino e os ténis mais leves. Não convinha desapontar os fãs, no caso de os haver. A Vagarosa também comparecera antes do tempo, pois saíra de casa com três horas de antecedência.
Ficaram na linha de partida à espera do sinal. A Matreira apitara com toda a força; o momento era solene e ficara devidamente registado nos tímpanos dos espectadores. A lebre desatara a correr com velocidade desnecessária, deixando a Vagarosa a mastigar poeira. Ao fim dos primeiros cem metros, a lebre olhara para trás, mas nem sinal da lenta companheira. Então, permitira-se rir com gosto, antecipando a gabarolice da proeza.
Com tal avanço, resolvera então descansar à sombra do pinheiro; este assinalava a terça parte do total a percorrer. Até podia dormir a sesta, pensara. Teria à vontade hora e meia pela frente sem sobressaltos. E se o pensara, melhor o fizera. Dormira sossegada, e sossegada estivera no momento da Vagarosa passar pelo pinheiro; nem dera por nada.
Acordara sobressaltada sem saber bem onde estava. Mal se lembrara, correra como jamais correra na vida, em direcção à linha de chegada. A Matreira já lá estava, e, maldição!, a Vagarosa também. E com a medalha ao peito.

                                   
                                                                                                                        Manoela Almeida

1 comentário:

  1. Não consigo publicar. Acho que tenho password errada. Por favor, alguém me manda e-mail com password e gmail? O meu endereço está na lista distribuída hoje.
    Obrigada

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